domingo, 27 de setembro de 2009

Projetando para a classe baixa.


O último texto postado colocava em discussão o problema da moradia popular: como o “povão”, dentro de sua realidade financeira, se estabelece em uma cidade que cresce em ritmo alucinado?

Um imóvel em Lagoa Santa, considerado padrão para a classe média, deve contar com três quartos, dois banheiros, cozinha, salas de jantar e estar, garagem para dois carros e uma área de lazer. Para compor o preço de um imóvel nível, devemos contar com um lote bem localizado, que custa, no bairro Lundcea, por exemplo, em torno de R$ 70.000,00. Esta casa, com 120 m2 de área construída, tem um custo, segundo o Sinduscon, de R$ 981,33 por m2 (padrão normal), ou seja, um total de R$ 117.759,60 para se construir conforme as normas vigentes. Soma-se a este preço os tributos municipais, despesas de cartório, comissão do corretor, imposto de renda, e, logicamente, o retorno financeiro do investidor (no mínimo, 35% de lucro). Assim sendo, o preço de venda de uma casa destas não fica por menos de R$ 280.000,00.

Uma casa popular, com área de 60 m2 , custa em torno de R$ 49.000,00 para ficar pronta (segundo CUB do Sinduscon, classe R1-B, R$ 819,78/m2). Agora, colocando-se o preço do lote em um local razoável, mais os encargos e lucros, a venda deve ser feita por, pelo menos, R$ 150.000,00. Tal valor não cabe no orçamento da classe baixa, que poderia financiar seu imóvel através do plano Minha Casa, Minha Vida, por exemplo, que estabelece o teto máximo de R$ 100.000,00 para quem recebe entre 3 e 6 salários mínimos (quem recebe menos - grande parte da população, esta fora dessa equação).

Para baixar este valor de venda, o empreendedor interessado executa projetos sem o mínimo de conforto (veja uma reportagem interessante na Revista Epoca, Ed. 591, de 14/09/2009 – Famílias Encaixotadas, no link: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI92611-15228,00-FAMILIAS+ENCAIXOTADAS.html) e em locais desprovidos de rede esgoto, asfalto ou calçamento de ruas, transporte público, escola, creche, supermercado, etc, deixando tudo isso a cargo do poder público.

É lógico que todo o mundo quer viver na condição ótima (3 quartos, suíte, garagem, área de lazer, quintal), todo arquiteto e engenheiro quer se envolver nesse tipo de projeto (onde a remuneração é melhor e sua veia artística pode ter asas), todo governante quer administrar (sem ônus de saneamento básico, educação e transporte público), todo corretor quer vender (pois trabalha com comissão) e todo empreendedor quer realizar (o retorno é muito maior). Entretanto, “querer não é poder”, e a demanda pela outra condição é cada vez maior, afinal, a manicure, a cabelereira, o caixa do supermercado, o servente de pedreiro, e tantos outros também querem morar em sua própria casa. Como fazer isso de forma humana e organizada? Eis a questão.


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